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Peter Pan


" E eu não tenho ninguém pra quem ligar na madrugada e dizer que tá doendo, vem me ver.
Ninguém pra atravessar a cidade por mim."

- Caio Fernando Abreu -

Me sento no chão, no meio da sala. Infantilmente, penso em cruzar minhas pernas naquela posição de yoga, mas não tenho elasticidade o suficiente e nem acredito em meditação... então me conformo em, pelo menos superficialmente, ser normal.

Não sei porque afastei os móveis já que não pretende fazer nada além de me sentar aqui. Talvez meu inconsciente estava me prevenindo que a turbulência de sentimento pudesse me fazer desmaiar. Agradeço silenciosamente ao meu corpo por cuidar de mim.

As luzes estão completamente apagadas, as janelas fechadas... a casa silenciosa. Não sei se preciso pensar... mas, acho que não quero.
Tem um sentimento pesado me puxando para baixo, dentro do meu coração. Quero liberá-lo de alguma maneira... tento através das lágrimas... mas parece que a dor só aumenta.

Me sinto só.

O telefone está no chão, ao meu lado. Não toca. Sem novas mensagens, sem ligações. Penso em ligar pra alguém, mas então a dor em meu peito se aprofunda ao perceber que não tenho ninguém pra quem ligar. Ninguém que me ouviria de verdade, ninguém pra me emprestar o coração enquanto não aguento o peso do meu.

Você não está só, Caio Fernando Abreu... eu também não tenho ninguém pra atravessar a cidade por mim.

De repente percebo quanto o silêncio está carregado... e entendo quando as pessoas dizem que o silêncio pode ser ensurdecedor.

As lágrimas não cessam, só se tornam uma torrente mais forte e dolorosa. Querem fazer com que a dor encontre outro jeito de ser externada; enche minha boca de soluços que tento conter sem sucesso. Abafo-os com minha mão direita, abraço a mim mesma com a esquerda.

Uma dor pode te partir literalmente ao meio?

Percebo o propósito de ter afastado os móveis quando me deito no chão. Meu rosto no chão frio de alguma maneira encontra conforto. Deixo os olhos abertos enquanto as lágrimas vem e meu lábio inferior treme... desisti de lutar contra isso.

Ou simplesmente desisti.

Não sei bem do que, de fato, desisti se você me perguntar, mas sinto como se o instinto humano de "Lutar ou Correr" esteja se esvaindo de mim. Deitada no chão, a mercê dos meu piores sentimentos...

Preciso que alguém tome a intensa responsabilidade de cuidar de mim.

Tento me lembrar de todas as borboletas que voam em minha mente quando estou bem, cada uma delas carregando algo em que acredito... tento aprisioná-las em minhas mãos e trazê-las para mais perto possível do meu peito. Repito quantas vezes for preciso que as coisas em que acredito, em que quero acreditar... Sim, coisas assim acontecem.

E me sinto Peter Pan quando gritava em alto e bom som "Eu acredito em fadas!", na esperança de ressuscitar Sininho. Sim, sim, eu acredito! - repito - Acredito em coisas únicas e espetaculares.

Tenho fé que, se você acreditar com muita, muita força em algo... você faz com que essa possibilidade se torne real.

Acredito que coisas incríveis podem acontecer, podem me alcançar...
Mas, não se eu permanecer aqui, deitada no chão, deixando que um buraco negro me devore de dentro pra fora.

Não se eu desistir. 

Mas, eu não tenho ninguém, pra me estender a mão. Então, eu faço o de sempre... tento fazer com que livros me salvem.

Peter permanece alguns centímetros do chão, meus olhos fixos em seus pés sujos de criança que jamais precisará crescer. Sinto seu calmo olhar sobre mim. 

Agradeço-o da maneira mais sincera que consigo, silenciosamente, dentro do meu coração.

Em minha mente, Peter.. sim, ele. Ele me estende a mão.
Sorri e me pergunta quantas vezes mais terá que me salvar.

Eu sorrio de volta e como sempre, digo:

- Só mais uma vez, Peter.
Só mais uma vez.

Embora ele não se importe realmente e eu não saiba a resposta.

Me empresta essa armadura da inocência, da pureza infantil em seus olhos, amado Peter.
Só dessa vez.

Só até as feridas cicatrizarem e eu conseguir, novamente, vestir a minha.

2 comentários:

  1. Vim aqui só ler esse texto de novo e de novo pra ver se aquelas coisas que te "contei" param de doer.

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  2. Oi Jess, :)

    Espero que meu texto tenha ajudado Jess, realmente espero... sinto muito que tenha que passar por tudo aquilo =/

    Fica bem, você merece muito :)

    ~> Beijusss...;*

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