"Eu não amei aquele cara.
Eu tenho certeza que não.
Eu amei a mim mesma
naquela verdade inventada."
- Martha Medeiros -
Não, não acho que o tenha amado.
Foi mais como gostar da possibilidade de ser amada de volta.
Nesse mundo tão saturado de amores não correspondidos, nós fomos dois egoístas que se sentiram sozinhos... e encontramos um ao outro. E, mesmo achando que ele também não me amava, aparentemente nossas solidões faziam companhia uma pra outra.
Não era amor... era algo mais forte que nos unia, e nos fazia se encolher assim, um do lado do outro, condicionando nossas mentes a aceitar o amor que nos era ofertado, mesmo não sendo o amor que queríamos receber.
Era mais forte que amizade, eram duas almas torturadas pelo mesmo mal que tinham essa bobagem humana de não querer ser infeliz sozinho. Era o único modo de não congelar nesse mundo cada vez mais frio; aceitar o abraço desesperado que salvava ao mesmo tempo que pedia pra ser salvo.
Não éramos a cura, éramos anestesia...e bastava.
Não, não era amor... era vazio interior que nos devorava e que o outro acalmou.
Não era paz, nem turbulência... era um meio termo estranhamente cômodo onde um mantinha o outro inteiro. Onde um vigiava o sono do outro. Era um contrato silencioso de morrer de amor e continuar vivendo, era aquele necessidade de que alguém precisasse de nós.
Não era carência tão pouco... bem, talvez fosse, mas esse não era o real motivo de tudo. Não foi por isso que tudo começou. Nenhum de nós diria em voz alta, mas era medo... aquele terrível medo que assola a nós humanos; ficar sozinho. Se sentir sozinho. E sim, essas duas coisas as vezes são completamente diferentes.
Não podíamos, não queríamos acreditar naquela frase que diz que nós entramos no mundo sozinhos e saímos dele do mesmo jeito.
Não era amor; era queda livre. Que de alguma maneira não me fazia gritar em desespero e medo, não enquanto eu tivesse a mão dele na minha enquanto caia. E eu sabia que era recíproco o sentimento.
Talvez fosse essa segurança de saber exatamente onde estávamos nos metendo, de entender com perfeição o que um sentia ao lado do outro, que não era amor e não podia ser mal interpretado... Talvez fosse essa calmaria de saber que podia estender a mão e simplesmente pegar a dele sem medo de parecer fraca, sem medo de ser humana em sua essência.
E eu não sabia pra onde estávamos indo e se iríamos ficar bem quando chegássemos lá, mas fosse o que fosse, onde fosse... queria ir com ele.
Mas, não, não se engane; não era amor.
Era a beleza de poder entrelaçar os meus dedos nos dele com a força que eu quisesse e deixar minha insegurança escapar em um:
- Juntos?
E ele me sorrir aquele sorriso eternamente triste que ultimamente, eu estava perigosamente querendo fazer desaparecer... e então dizer.
- Sempre.
E então, mais uma vez, saltarmos em queda livre.
Sem medo.
Sem dor.
Não era amor.
Mas, uma parte de mim queria que fosse.