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Até Amanhecer




Sentada de pernas cruzadas na cama eu sorrio ao observar você, enquanto abotoa uma camisa branca limpa diante do espelho. Pelo reflexo você me vê te olhando e sorri piscando pra mim antes de se concentrar nos últimos botões a fechar.
E eu mal pude acreditar que na noite anterior eu estava prestes a te deixar ir.
"O amor é para os fortes" você me disse uma vez, em um sussurro que reverberou por minha pele enquanto ontem a noite, eu estava deitada ao seu lado, observando você dormir.
"Mas eu tenho medo" eu sussurrei contra o travesseiro, mesmo que não fizesse sentido dizer isso para os seus olhos fechados. "Talvez eu não seja forte o suficiente" eu conclui.
E talvez você simplesmente tenha sentido, como sente e conhece cada sentimento que passa por essa pele que é minha e tua. Por que você escolheu exatamente aquele momento para, ao mover no sono, colocar seu braço apertado e me trazer pra você.
Olhei a linha desenhada por teu queixo um pouco acima da minha cabeça e então, sem te acordar deslizei meu dedo por tua pele lentamente e fiquei surpresa que não houvesse qualquer tipo de pó mágico em meus dedos quando eu me afastei por que, o que eu senti na ponta dos meus dedos não poderia ser descrito como meramente humano. "O amor", eu lembrei que você tinha me dito mais de  uma vez, "é uma mais perto que nós temos da magia".
E quando eu estava com você era difícil não acreditar.
Você mudou tudo em que eu acreditava.
Todas as bases sólidas e ao mesmo tempo ridículas que eu tinha antes de você ruíram...todas as minhas filosofias e a minha tola definição do que era o amor haviam mudado radicalmente.
Mas o tremor em meus dedos quando eu me afastei de você me fez lembrar do quanto era assustador dar meu mundo tão completamente a alguém. Mesmo que esse alguém fosse você.
Por que naquele momento, olhando você dormir, eu sou incapaz de me sentir o suficiente.
Eu sou incapaz de acreditar que eu sou digna de ser tão feliz. Meu lado pessimista só consegue repetir "Isso não vai durar"
E então foi por isso que eu decidi partir em silêncio na noite...mesmo que esse silêncio estivesse cheio de palavras a se dizer. Eu queria dizer que eu te amo. Amo mais do que deveria. Mas isso parece contrariar alguma regra universal; talvez tanta felicidade não possa habitar um ser humano apenas...algo ruim deve acontecer para reequilibrar a balança do universo... mas essa teoria ridícula se resumiria a uma única confissão: Eu só estou com medo, amor.
Por que me disseram uma vez, que era um erro eu ficar com você.
Justamente por que eu te amava demais.
Que não ia durar.
E é por isso que eu, na noite anterior enquanto você estava tranquilo em seus sonhos, eu pensei em deslizar desses lençóis e partir tão silenciosamente da dua vida quanto eu havia entrado.
Adivinhando meus pensamentos, você resmungou algo em seu sono, e me apertou com mais força em direção a você.
Me estiquei pegando uma caneta na mesinha ao lado da cama e uma agenda. Rasguei um pedaço de uma das folhas em uma data qualquer e meus dedos tremiam quando a caneta tocou o papel.
O pedaço partido parecia pequeno demais para tanta coisa que eu queria dizer.
Eu queria dizer que a culpa era minha...que eu não merecia o amor, nem você. Queria dizer que meu medo estava sufocando qualquer fé em mim. Eu devia dizer que uma parte de mim - a mais importante - iria morrer ao deixar você, mas eu simplesmente não conseguia me arriscar por completo.
Eu queria dizer eu te amo... mas a magnitude do que eu sinto, você nunca iria compreender.
De alguma maneira, escrever tão resumidamente o que eu queria dizer foi mais difícil e doloroso do que ter dito tudo o que eu cheguei a pensar em dizer, olhando nos seus olhos.
"Por favor me perdoe"; eu escrevi e soou estranho quando, ao continuar, nenhuma parte minha das que se partiam naquele momento e permaneciam ao seu lado na cama, ficou visível em nenhuma letra minha. Hesitei ao continuar aquela linha que me fazia sentir como um testamento: "Lamento não ter dito adeus."
Eu me movi pra te deixar. Com delicadeza, desprendi seus dedos que agarravam ainda firmemente minha camisa. Me sentei enquanto as molas da cama rangiam, e olhei o homem deitado ao meu lado.
E a maneira como seu peito subia e descia tranquilamente enquanto respirava, como seus olhos ainda fechados pareciam estar vendo algo bom...o sorriso que brotou em um canto dos seus lábios quando eu não resisti a deslizar minha mão pelo seu rosto...
Me fez querer ver o mundo pelos seus olhos.
Eu beijei seus lábios adormecidos e me virei para sair, mas então senti sua mão segurando a minha.
Me voltei pra ver você, agora desperto mesmo que sonolento, olhando pra mim.
"Onde pensa que vai?" você perguntou e então sorriu esfregando os olhos e deixando os rastros de sono para trás.
Eu desviei meus olhos, mas acho que as lágrimas cintilaram no escuro. "Vou dar uma volta" tentei sorrir sem te olhar ainda e então desprendi meus dedos dos seus.
Eu estava na porta quando você me chamou. Segurei no batente da porta para me manter inteira quando me virei em direção a sua voz.
Seus olhos ficaram nos meus demoradamente sem dizer nada.
E foi então que eu pude praticamente ver realmente o que eu estava deixando. Metade de mim estava ainda ali, ao teu lado agarrada a você como se você fosse tudo o que me mantinha viva. Uma parte minha ainda estava tocando e olhando você com o mesmo olhar que um cego teria ao recuperar a visão e pela primeira vez, ver o sol.
Metade minha ainda estava ali do seu lado, enquanto apenas ruínas minhas se afastavam de você.
E eu percebi o quão idiota era, se partir ao meio só para sobreviver. E que se limitar a sobreviver nunca seria o mesmo que estar viva.
E uma velha frase sua percorreu minha pele como um arrepio a distância "O amor não tem haver com o quanto você vai receber amando alguém...mas o quanto você é capaz de se doar".
E foi então, meu amor, que eu percebi que em mim não restava nada se eu arrancasse você. E que eu daria tudo, cada gota do meu sangue até minha última respiração...para amar você até o último segundo da minha vida.
E que nosso amor poderia durar milhares de anos ou apenas até o dia amanhecer.
Mas de alguma maneira a eternidade era nossa.

5 comentários:

  1. Emocionante esse texto Dayane. Mas não consigo entender como uma pessoa que mesmo amando tando, têm medo desse amor e resolvem deixar tudo de lado, por paz ou algo assim. Acho que arriscaria qualquer segurança, qualquer dia calmo por amor, mesmo sabendo que não iria durar, acho que faço isso todos os dias. Amei, como sempre, o texto. Beijos!

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  2. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah eu adorei. e tipo ficou diferente dos outros com essa historinha mimimi (: lindo demais, Day, sério.

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  3. Suas palavras são tão completas que é até complicado descrever o que senti quando li, sabe que eu sou sua fã.

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  4. Sempre que venho aqui me emociono com suas palavras que simplesmente me tocam tão fundo.
    Lindo!!!! Parabéns flor.
    Bjos!

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  5. Oi Mayara,

    Acho que o amor é grandioso demais...e a grandeza assusta. Ele tira o melhor de nós, mas nos domina de uma maneira que já não pertencemos a nós mesmos...
    Isso assusta =/

    Obrigada, que ótimo que gostou *---------*

    Oi Maiara,

    Sério? *_________* Fico sorrindo feito boba aqui rs' É, esse texto foi diferente, fazia tempo que não escrevia histórias :)

    Oi Jess,

    Eu também amo o que você escreve também Jess, sempre *-*

    Fico até emocionada com o que você diz :)

    Oi Ahtange,

    Não sabe o quanto fico feliz quando minhas palavras tocam alguém...obrigada, muito obrigada, muito obrigada pelo comentário lindo ^^

    ~> Beijusss...;*

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