- Não se preocupe comigo -, ela sorriu - Se ele me machucar, eu simplesmente vou esquecê-lo.
Inalei lentamente o ar de outubro, ao lado dela, sentindo que só nas últimas duas semanas eu voltara a respirar. Dividia minha vida no período Anterior e Posterior a ele...
Nada, nunca, será igual.
E invejei a ingenuidade dela... a facilidade com a qual ela observava o que ela estava prestes a fazer; se apaixonar. Loucamente - afinal, qual amor não tem traços de loucura? - mergulhando fundo de mais para conseguir voltar a superfície.
Sem sequer se dar conta.
Eu me enxerguei nela; eu também já fora a garota que não tinha medo do amor.
Na mente dela, eu podia adivinhar, não havia nada mais simples do que se livrar de um amor mal sucedido. Como apagar com força uma palavra errada no papel e restar apenas leves marcas nele; apenas lembranças. E com memórias, ela pensava, memórias não a matariam.
Quis dizer a ela, que jamais seria tão simples. Que o amor não te deixa mesmo quando vai embora. Que ele fica impregnado em sua pele, dificulta a sua respiração... que depois da passagem dele, ela jamais seria a mesma.
E que isso teria um lado bom e outro ruim com os quais ela inevitavelmente teria que aprender a conviver.
Queria dizer que caso ele a machucasse, mesmo assim ela ainda a amaria. O amor teimaria em permanecer, mesmo quando já não houvesse sequer uma chance...e então ela aprenderia que ás vezes as lembranças dão sim, a clara impressão, que poderiam te matar.
O quão irônico seria morrer de amor?
Queria dizer que seria melhor que ela desistisse antes mesmo de começar... Que havia uma chance em um milhão.
Mas, uma parte de mim, a que contava e fazia pedidos as estrelas, a que achava que o amor verdadeiro estava por ai, queria também dizer a ela que não importava quais fossem as chances ela deveria se agarrar a isso. Dizer que ela deveria ser mais forte do que jamais fora, por que o amor não foi feito para covardes.
Uma parte de mim, que havia sobrevivido a experiência de quão amplamente o amor pode destruir, queria só dizer a ela que o amor valia a pena sim.
Que as lembranças que talvez a machucassem também, contraditoriamente, a fariam viver.
Queria dizer a ela, tanta tanta coisa...
Mas, só o que escapou de dentro de mim e da eterna batalha entre o 'eu' dizimado e o 'eu' que mantém a fé foi:
- Faça dele o seu Felizes Para Sempre.